Elaboração de projetos para fundos: que cuidados tomar?


Quer saber quais são os cuidados essenciais na elaboração de projetos para fundos e conseguir melhores resultados para os seus? Acompanhe nossas dicas!

Por Vanessa Miranda

Elaborar projetos é uma verdadeira arte; embora pareça uma etapa burocrática, é nela que você convence fundos e potenciais patrocinadores do potencial de seu projeto. É quase como uma estratégia de vendas: é preciso ser convincente e transparente! Por isso, a elaboração de projetos para fundos, seja da Infância e da Adolescência (FIA) ou do Idoso, demanda uma proposta que esteja de acordo com o que a instituição faz de melhor e com a legislação.

Mecanismos descentralizados: cada fundo pode ter um regimento próprio

Antes de partirmos para as dicas práticas de escrita de projetos, é importante entender um pouco sobre o funcionamento dos incentivos fiscais e dos fundos.

É comum que as pessoas pensem que os mecanismos de fomento atrelados ao imposto de renda são geridos por órgãos federais. No entanto, no leque desses mecanismos. há:

  • os que podem ser considerados centralizados, como a Lei Rouanet e a Lei Federal de Incentivo ao Esporte;
  • e os descentralizados, como é o caso dos Fundos

Na prática isso quer dizer que as regras de funcionamento desses fundos não obedecem a um único órgão. Assim, os fundos podem ser das esferas municipal ou estadual, geridos por regimento construído durante seu processo de regulamentação. Por isso, cada fundo prevê o que pode ou não compor um projeto e, especialmente, seu orçamento

Isso significa que alguns fundos permitirão projetos de obras e reformas e outros não, por exemplo. Assim como a remuneração para captação de recursos, autorizada pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente em 2019, que inspirou fundos de outras esferas a fazerem o mesmo. Daí a importância de se ater ao regulamento do fundo de sua cidade ou estado.

Verifique a possibilidade de destinação de doações

Outro cuidado prévio a tomar é verificar se há autorização para remuneração e a possibilidade de doação “carimbada” – ou seja, a empresa ou cidadão pode indicar ao fundo o projeto que vai receber o recurso doado. Isso favorece a atração de recursos para o município/estado de origem.

Isso se deve ao aumento da predisposição das empresas especializadas em captação de recursos direcionarem seus esforços para lugares que oferecem essa alternativa. É também maior a probabilidade de empresas doarem para projetos que estejam de acordo com suas diretrizes de investimento social.

Elaboração de Projetos para Fundos: Como criar um projeto que gere bons resultados?

Não há uma fórmula mágica que garanta aportes para seus projetos, mas alguns cuidados fazem toda a diferença para o sucesso dos proponentes!

Faça uma avaliação das reais necessidades e metas de seu projeto

O primeiro passo para elaborar bons projetos é olhar para dentro da organização e compreender quais as maiores demandas e dores atuais, assim como quais são os objetivos a curto, médio e longo prazo.

Esta análise colabora diretamente com a elaboração de um projeto que pode contribuir para a sustentabilidade da organização. Isso pode vir através da compra de equipamentos, por exemplo, ou de ações para expansão.

Uma dica para organizar as ideias é utilizar ferramentas como planilhas, quadros e mapas mentais que facilitarão a visualização das informações. 

É importante ter em vista que esse mapeamento deve ser condizente com aquilo que a organização tem como missão e com as normas do fundo em questão.

Tenha atenção com a estrutura de escrita do projeto

Partindo desse levantamento, o próximo passo é iniciar a construção dos textos para o formulário padrão do fundo que será acessado. Esse formulário vai variar de acordo com cada localidade, mas costuma ter um roteiro básico, como mostramos a seguir.

1. Resumo

O resumo é a porta de entrada para o projeto e deve conter as informações essenciais sobre o proponente e a proposta que será executada de forma sucinta e clara. 

Uma dica é olhar para o objetivo central do projeto para produzir esta seção que, normalmente, tem de quatro a cinco linhas.

2. Descrição

A descrição é um dos espaços que normalmente possuem maior número de caracteres e conteúdo mais minucioso sobre a proposta. Neste campo, devem constar um pouco da história da organização, o que ela faz e o que ela propõe com este projeto.

Para facilitar a elaboração do texto, podemos dividi-lo em quatro parágrafos:

  1. Resumo geral introdutório do projeto.
  2. Histórico breve da instituição com dados, como número de beneficiários e núcleos, por exemplo, e contextualização das ações da entidade.
  3. Detalhamento das atividades previstas na proposta.
  4. Resumo sobre a execução das atividades do projeto.
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3. Justificativa

O espaço da justificativa serve ao convencimento e à demonstração da importância da execução do projeto para a organização, seus beneficiários e a comunidade de que faz parte.

Essa seção costuma ser um pouco mais longa para permitir que o proponente demonstre seu conhecimento sobre os temas que atravessam seu trabalho e as ações pretendidas. Esse saber pode ser comprovado através de dados de pesquisas realizadas por órgãos públicos e privados confiáveis, como o IBGE e a Fiocruz.

Para traçar um perfil da realidade e do impacto gerado, é importante manter em mente a noção de escala, ou seja, considerar o efeito real que o projeto terá.

Quer um exemplo? Imagine que você está escrevendo um projeto a ser submetido para o Fundo do Idoso de sua cidade. Ao elaborar a justificativa, concentre-se em elucidar a melhoria na qualidade de vida dos idosos atendidos ao invés de abordar a contribuição dele para o envelhecimento ativo no Brasil como um todo. 

4. Objetivos

Os objetivos da proposta são divididos em “Geral” e “Específicos”. Bons objetivos traduzem em poucas palavras o que será feito pelo projeto e seu impacto tangível e intangível.

  • Objetivo Geral: é a missão central do projeto de forma clara e direta.

Exemplo: “Contribuir com o desenvolvimento socioemocional de crianças e adolescentes do Subúrbio Ferroviário de Salvador (BA) através de ações sistêmicas em escolas públicas.”

  • Objetivos Específicos: são os desdobramentos das ações e impactos previstos no projeto divididos de forma lógica e complementar.

Exemplo: “Promover aulas de teatro para crianças, adolescentes e seus familiares em escolas públicas do Subúrbio Ferroviário visando o fortalecimento de vínculos comunitários.”

5. Metas

As metas estão ligadas ao processo de monitoramento e prestação de contas do projeto. Nesta seção, os fundos pedem a previsão de indicadores, formas de coleta de dados e outras informações essenciais para mensurar o impacto das ações.

De forma resumida, as metas são os objetivos quantitativos e qualitativos a serem alcançados pela organização proponente.  As metas devem ser elaboradas a partir dos objetivos específicos, facilitando a construção de um projeto que esteja alinhado às exigências dos mecanismos.

Uma dica é pensar sempre no que é mensurável facilmente. Pense, por exemplo, em um projeto de educação. Algumas metas para ele poderiam ser a quantidade de alunos assistidos e a diminuição da evasão escolar. Esse raciocínio nos permite chegar aos indicadores de maneira mais fácil.

E os indicadores, por sua vez, são os meios de verificação e periodicidade de coleta de dados para que o fundo possa acompanhar a execução do projeto.

Os meios de verificação são as plataformas usadas para demonstrar os resultados, podendo ser listas de presença, fichas de cadastro, entre outros, e a periodicidade é a frequência de coleta dessas plataformas.

6. Cronograma

Pensar o cronograma de execução do projeto exige um conhecimento global das etapas fundamentais para realizar o que será proposto. Sempre devemos considerar todo o período necessário para atingir os resultados, ou seja, desde a preparação inicial (pré-produção) até a prestação de contas.

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7. Orçamento

A planilha orçamentária é um espaço para listar as necessidades de compras e serviços para a execução das ações. Grande parte das planilhas são segmentadas em seções como: 

  • Item
  • Tipo de Unidade
  • Quantidade do Item
  • Valor Unitário
  • e Valor Total. 

Em geral, as nomenclaturas utilizadas são muito autoexplicativas. 

No orçamento, devemos incluir as despesas com contratação de pessoal, prestações de serviços e aquisições de materiais e equipamentos, por exemplo, além de permitir a previsão de gastos operacionais da organização, como água, energia e salários da equipe administrativa. 

É importante ressaltar que o custeio das despesas operacionais precisa ser disposto no orçamento de forma proporcional ao impacto no projeto. Isso significa que o custeio precisa ser colocado no orçamento de maneira rateada – por exemplo, rateamento da quantidade de horas de dedicação da equipe administrativa às atividades do projeto. 

Um ponto de atenção, é o fato da maioria dos fundos exigir a apresentação de referências de preços na submissão das propostas. Para isso, você pode apresentar, por exemplo, cotações de cada item presente no orçamento, seguindo os preceitos da administração pública.

Dica bônus: aplique a 5W2H

A ferramenta 5W2H pode ser aplicada em diversas ocasiões, inclusive para elaboração de projetos para fundos. Para usá-la, você deve construir um quadro utilizando ferramentas online ou papel, respondendo sete perguntas básicas:

  • O quê?
  • Por quê?
  • Quem?
  • Quanto?
  • Como?
  • Quando?
  • Onde?
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Através das respostas você terá um guia para criar o conteúdo para cada seção do formulário!

Gostou das nossas dicas de elaboração de projetos para fundos? Compartilhe com quem pode precisar! Quem sabe assim, você não dá aquele empurrãozinho para ideias que podem transformar o mundo?